sábado, 3 de março de 2012

Veronika decide viver

Por Arthur Franco

Paulo Coelho não é um dos escritos mais amados do Brasil, certamente. Mas nunca entendi essa fama negativa que o autor carrega consigo, muito porque a maioria das pessoas que dizem “não gosto de Paulo Coelho, é auto ajuda”,  “Paulo Coelho é uma merda, não sabe escrever” ou ainda “Paulo Coelho não é literatura” nunca chegaram nem a ler a primeira palavra de um livro do autor. Apesar dos seus livros terem todos uma tonalidade positivista e de transformação, levando o leitor a crer que todos podemos mudar o nosso destino, as suas obras não chegam a ser uma auto-ajuda explícita. Quase em tudo que o autor escreve, as mensagens de fé, paz, amor e esperança são transmitidas em forma de parábolas, de histórias com personagens reais, humanos, que erram, se arrependem, mas também que aprendem, que tem histórias de vida. 



O volume que vou abordar hoje é Veronika Decide Morrer, lançado em 1998. Um livro simples, com uma história teoricamente simples, com personagens simples, mas que numa segunda leitura se revela muito mais amplo e transformador. Paulo Coelho se inspirou em si próprio para a composição dessa obra. Aos 17 anos, o escritor foi internado em uma clínica psiquiátrica e prometeu que um dia iria escrever sobre o tema. A garota que dá o nome ao livro é Veronika, uma jovem eslovena que decide se matar. Não porque seja feia, ou porque é sozinha, ou porque é insatisfeita com o seu trabalho ou tem problemas financeiros. Veronika decide se matar simplesmente porque sua vida é indiferente. Nas suas palavras, “nunca tive depressão, nem grandes alegrias, ou tristezas que durassem muito.” E essa sensação de passividade é o cerne que dá estrutura ao livro e que faz com que a jovem decida por fim a sua existência. Mas até Veronika tem dúvidas se quer mesmo esse destino para si. “Ao invés de amassá-los e misturar com água, resolveu tomá-los um a um, já que existe uma grande distância entre a intenção e o ato, e ela queria estar livre para arrepender-se no meio do caminho.”

Mas, felizmente (ou não), Veronika é encontrada desmaiada e levada às pressas para um hospital e posteriormente internada em Villete, um “asilo de loucos”. É lá que a protagonista vai conhecer Zedka, ; Mari, uma já antiga interna que tem ataques de pânico e Eduard, um esquizofrênico que será uma metade responsável pela transformação na vida de Veronika. A outra metade que será papel indispensável na nova vida da jovem é o prognóstico do médico: devido à quantidade de calmantes que a garota ingeriu, seu coração foi afetado e logo deixará de bater. “Cinco dias, uma semana no máximo.” E a proximidade da morte fará com que Veronika abra os olhos para o mundo e comece a se libertar, se permitir, a fazer tudo o que tem vontade e a descobrir que viver é muito mais do que apenas estar vivo.  

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