Por Arthur Franco
Paulo Coelho não é um dos escritos mais amados do Brasil,
certamente. Mas nunca entendi essa fama negativa que o autor carrega consigo,
muito porque a maioria das pessoas que dizem “não gosto de Paulo Coelho, é auto
ajuda”, “Paulo Coelho é uma merda, não
sabe escrever” ou ainda “Paulo Coelho não é literatura” nunca chegaram nem a
ler a primeira palavra de um livro do autor. Apesar dos seus livros terem todos
uma tonalidade positivista e de transformação, levando o leitor a crer que
todos podemos mudar o nosso destino, as suas obras não chegam a ser uma auto-ajuda
explícita. Quase em tudo que o autor escreve, as mensagens de fé, paz, amor e
esperança são transmitidas em forma de parábolas, de histórias com personagens
reais, humanos, que erram, se arrependem, mas também que aprendem, que tem
histórias de vida.
O volume que vou abordar hoje é Veronika Decide Morrer,
lançado em 1998. Um livro simples, com uma história teoricamente simples, com personagens
simples, mas que numa segunda leitura se revela muito mais amplo e transformador.
Paulo Coelho se inspirou em si próprio para a composição
dessa obra. Aos 17 anos, o escritor foi internado em uma clínica psiquiátrica e
prometeu que um dia iria escrever sobre o tema. A garota que dá o nome ao livro é Veronika, uma jovem eslovena que decide se
matar. Não porque seja feia, ou porque é sozinha, ou porque é insatisfeita com
o seu trabalho ou tem problemas financeiros. Veronika decide se matar
simplesmente porque sua vida é indiferente. Nas suas palavras, “nunca tive depressão, nem grandes alegrias,
ou tristezas que durassem muito.” E essa sensação de passividade é o cerne
que dá estrutura ao livro e que faz com que a jovem decida por fim a sua existência.
Mas até Veronika tem dúvidas se quer mesmo esse destino para si. “Ao invés de amassá-los e misturar com água,
resolveu tomá-los um a um, já que existe uma grande distância entre a intenção
e o ato, e ela queria estar livre para arrepender-se no meio do caminho.”
Mas, felizmente (ou não), Veronika é encontrada desmaiada e
levada às pressas para um hospital e posteriormente internada em Villete, um “asilo
de loucos”. É lá que a protagonista vai conhecer Zedka, ; Mari, uma já antiga
interna que tem ataques de pânico e Eduard, um esquizofrênico que será uma
metade responsável pela transformação na vida de Veronika. A outra metade que
será papel indispensável na nova vida da jovem é o prognóstico do médico:
devido à quantidade de calmantes que a garota ingeriu, seu coração foi afetado
e logo deixará de bater. “Cinco dias, uma
semana no máximo.” E a proximidade da morte fará com que Veronika abra os
olhos para o mundo e comece a se libertar, se permitir, a fazer tudo o que tem
vontade e a descobrir que viver é muito mais do que apenas estar vivo.
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