terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Livros para se adentrar no mundo de Agatha Christie - Parte I

Por Arthur Franco

Dizem que seus livros só não foram mais traduzidos do que a Bíblia e as obras de Shakespeare. Com mais de 80 romances publicados, Agatha Christie me conquistou ainda na adolescência, com meus 15 anos e tempo de sobra para ler. Era mais de um livro por semana: nas aulas, em casa, na rua, em qualquer espaço de tempo livre, estava eu com alguma obra ‘agathachristiniana’ embaixo do braço. As tramas muito bem estruturas e a variedade de motivos/armas/circunstâncias foram as pedras angulares para que meu coração desenvolvesse uma paixão por Christie. Os personagens, todos com o psicológico quase que ‘analisado’ ao longo das histórias, cativavam e sempre levavam a procurar mais um volume. E nesse quesito pouco tenho a reclamar: a Biblioteca Municipal de Uberlândia possuía quase todos os exemplares.  

Da maioria dos livros, vem o famoso Poirot, detetive belga , de “um metro e sessenta e dois; a cabeça, do formato de um ovo, ligeiramente inclinada para um lado; olhos de um verde brilhante quando excitado; espesso bigode hirsuto como costumam usar os oficiais do Exército; e uma pose de grande dignidade". Com a ajuda de suas células cinzentas e nunca sem deixar de lado o método e a ordem, consegue sempre revelar o criminoso. 

Mas não só de Poirot se fez Agatha Christie. Junto vieram Miss Marple, velhinha astuciosa dona de um olhar inocente, mas que sempre segue implacável frente ao crime; Tommy e Tuppence, casal de detetives que juntos buscam aventura na solução de mistérios; e Parker Pyne, que se define como ‘detetive do coração’: “Você é feliz? Se não for, procure Mr. Parker Pyne,no No. 17 da Rua Richmond.”

Além disso, outros dois personagens certamente ficam na memória dos leitores: o capitão Arthur Hastings, companheiro fiel e ajudante de Poirot, mas que às vezes o leva na direção errada; e Ariadne Oliver, escritora de romances policiais que muitos consideram o espelho de Agatha Christie. 

PS: nem todos os livros são protagonizados pelos detetives supracitados. Alguns são narrados e investigados por personagens que são de alguma forma empurrados para o mistério e se vêem em condições e impelidos a resolvê-lo. 

Como o volume de obras escritas por Agatha Christie é imenso, seleciono aqui 5 obras que recomendo e nomeio como algumas das melhores, baseados em fatores subjetivos e em variáveis como circunstâncias do crime, táticas utilizadas, originalidade e construção da trama. 

Vamos então aos livros:
Treze à Mesa (1933)

Detetive: Hercule Poirot
Quando treze pessoas estão sentadas a uma mesa, a primeira a se levantar está destinada a morrer. Foi essa superstição que deu à Crhistie a idéia para Treze à Mesa. Jane Wilkinson não esconde de ninguém que quer de todo modo se livrar de seu marido. Quando Lord Edgware aparece morto, todas as suspeitas recaem sobre ela. Mas no momento do crime, Jane participava de um jantar e 12 pessoas são testemunhas de que ela só se levantou da mesa para atender ao telefone. Se Jane tem um álibi, então quem era a misteriosa loira que a empregada viu entrando no escritório de Lord Edgware instantes antes do assassinato? 

"Sabe meu amigo que cada um de nós é um mistério, um labirinto de paixões e desejos e aptidões?"


 
Convite para um homicídio (1950)

Detetive: Miss Marple
"Convida-se para um homicídio, a ter lugar sexta-feira, 29 de outubro, em Little Paddocks, às 18h30m. Espera-se a presença de todos os amigos da família; não haverá outra convocação." É com grande surpresa que Letitia Blacklock, moradora de Little Paddocks, lê esse anúncio no jornal. A dona de casa não sabe quem é o autor dessa brincadeira, mas se vê em perigo quando sofre um atentado bem na hora anunciada pelo jornal. Miss Marple então começa a investigar e descobre que o é passado nem sempre ficou para trás. 

“Não consigo pensar em piadas muito melhores do que anunciar um assassinato no jornal local!
 




O Misterioso Caso de Styles (1920)

Detetive: Poirot
O primeiro livro de Agatha Christie é também a estréia de Hercule Poirot, além de apresentar o Capitão Hastings e o inspetor Japp, da Scotland Yard. Tudo parece indicar que Emily Inglethorp morreu de ataque cardíaco durante o sono. Mas o médico da família desconfia que envenenamento foi a verdadeira causa da morte. Mas como ela foi assassinada se todas as portas do quarto estavam trancadas por dentro? Nenhum membro da família tem um álibi convincente e todos tinham motivos para matar a Srª Inglethorp. Cabe às células cinzentas de Poirot descobrirem quem é o assassino. 

“Você deu excessiva rédea à sua imaginação. A imaginação é boa servidora e mestre ruim. A explicação mais simples é sempre a mais provável.”  



O Caso dos Dez Negrinhos (1939)

Detetive: nenhum
“Dez negrinhos vão jantar enquanto não chove; Um deles se engasgou e então ficaram nove.” Christie mais uma vez se utilizou de canções populares para criar esse famoso romance. A trama central do livro envolve a cantiga popular "Ten Little Niggers",  que narra o encontro de dez pessoas (ou indiozinhos, dependendo da versão), em que cada um vai morrendo de uma maneira. É justamente o que acontece com 10 estranhos confinados em uma ilha: cada um perece do jeito que a canção descreve. Mas ninguém é tão inocente quanto parece. Todos já cometeram algum crime e saíram impunes. Um deles sabe disso e está disposto a fazer que todos paguem pelos erros do passado. Só que quando a polícia consegue finalmente chegar à ilha, dez corpos são encontrados. Então, quem é o assassino?

"Oh, sim, eu não tenho nenhuma dúvida em minha mente de 
que fomos convidados aqui por um louco."


É Fácil Matar (1939)

Detetive: Luke Fitzwilliam
Primeiro morreu Amy Gibbs. Depois Carter. E Tommy Pierce. E o próximo certamente seria Dr. Humbleby. Todas as mortes podiam passar despercebidas, mas não para Miss Fullerton. Com a suspeita de que havia algo errado, a senhora decidiu procurar a Scotland Yard. No trem à caminho de Londres, ela conhece Luke Fitzwilliam, um ex-policial que não acredita na sua história de que há um assassino à solta em Wychwood-under-Ashe. Mas Luke é obrigado a mudar de idéia depois que Miss Fullerton é atropelada e o Dr. Humbleby aparece morto. Ao chegar à cidade para investigar, Luke parte em busca de um assassino que talvez nem exista, já que todas as mortes parecem naturais. Mas e se ele for real, será que o ex-policial pode impedir o próximo crime?

"É muito fácil matar, desde que ninguém suspeite de você."

domingo, 29 de janeiro de 2012

O único sobrevivente.

Por Carlos Gabriel F.

Lars Kepler é o pseudônimo para  casal sueco de escritores: Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril (legal, não?!). Alexander conta em seu currículo com oito romances e quinze peças de teatro, o que o torna uma grande referência da escrita no seu país. Alexandra já publicou três romances, sendo um deles ganhador do Catapult Prize em 2003 – prêmio dado às obras de estréia – e também trabalha, enquanto crítica literária, com uma tese sobre Fernando Pessoa.

O primeiro romance do casal (ou de Lars Kepler, como preferir) chama-se “O hipnotista” e foi lançado no Brasil recentemente. O livro retrata o massacre acerca de uma família, com apenas um sobrevivente ao ataque: o filho de 15 anos. Joona Linna, encarregado de encontrar o criminoso de tamanho horror, encontra na hipnose a solução exata para trazer à tona as lembranças daquele que acabara com uma geração. “O hipnotista” é thriller severo, com uma trama densa, preenchido de ápices literários. 


Editora: Intrínseca
Tradução: Alexandre Martins
Páginas: 480 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Memórias literárias.

Por Carlos Gabriel F.

Afinal, o que fomos no passado irromperá, de alguma forma, em o que nos tornamos no presente? Nossos passos, perspectivas e escolhas que determinamos ao longo da nossa história em face terrestre, irão resultar em como sentimos e agimos enquanto tempo que nos fala? Ou vivemos os dias por meio de períodos estigmatizados, exclusivamente aprisionados numa Era indefinida e esquecida? 

A questão é que perpassamos tantas histórias, tantas correntes ideológicas, que nossa resolução magmática é pura, simples e unicamente resultado de uma série de fatores que fomos submetidos ao passar das estações. Somos tantos seres, tantos personagens aprisionados no subconsciente, que não percebemos quão múltiplos nos tornamos. Somos algo diferente por cada segundo, por cada milionésimo de tempo que pensamos a fim de traçar um desenvolvimento. Registramos nossa visão de acordo com o que sobrevivemos no passado. Somos história, sobretudo; resultado inconsequente do que fizeram desde o início das Eras. Amém


É sobre o tempo que “O Leitor”, de Bernhard Schlink, retrata. Ele, chamado Michael Berg, e ela, Hanna Schmitz, com anos de idade em diferença, e enclausurados por algumas horas em banheiras floridas por libido de encontros periódicos. Enquanto suas colisões poéticas, o menino ainda na puberdade lia para a mulher já marcada pelo futuro – e nessas horas de leitura a mulher se tornava menina, transbordava em sentimentos transcritos em páginas amareladas. Michael se tornava vivo, comungava carnalmente com Hanna e mesclavam-se em uno, num só ser e numa só ideia. Michael amou de forma integra e ininterrupta a mulher que com ele passava horas de romance. 

A trama que antes parecia se vangloriar pela superficialidade romântica, torna-se densa e profunda a partir do momento que a narração leva o leitor ao notar que Hanna, antes onipresente, deixa o jovem Michael de forma inexplicável e ressurge após anos incomunicáveis, sendo condenada a crimes nazistas. O protagonista, agora já adulto e estudante de direito, vê-se diante sua amada, circundada por autoridades que a declamam cúmplice de um dos crimes mais horrendos do século XX. Michael nota em Hanna uma vergonha, um incômodo, que por ela não fora revelado e pelo qual ela pretende pagar a não revelar em público. 

As páginas de uma profundidade ímpar foram elaboradas e registradas, também, no filme (assista ao trailer) dirigido por Stephen Daldry – que soube trabalhar no roteiro com David Hare, a fim de transmitir ao telespectador a ideia original criada por Bernhard Schlink. Ambas as obras causam incômodo, pois narram a paixão quente e imaculada de um jovem perante uma mulher que muitas vezes substituía sua lacuna familiar, entretanto traz a questão para o público: seria ele capaz de continuar à distância e, por conseguinte, enfrentar o choque pela criminalização? A continuar amando àquela por quem se apaixonara em outrora? Seria capaz de defendê-la e, sobretudo, entendê-la depois de tantos anos de procura? 

The Reader”, no original, causa uma ambiguidade que merece mensuração por ora e em tese final: seria afinal a tradução correta do inglês pra o português no gênero feminino ou masculino, já que no primeiro idioma não se identifica tal opção? Quem lera fora Hanna, com suas interpretações e sentimentalismo exacerbados, que apenas com a escuta vivenciava as histórias narradas, ou o menino, que simplesmente lia, transformava o datilografado em palavras miúdas? Quem lê: aqueles com leitura dinâmica ou aqueles que saboreiam cada sentimento na brochura presente? 

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A guerra invisível.

Por Arthur Franco

Chega finalmente ao Brasil agora o primeiro romance da aclamada escritora americana Julie Orringer. Orringer alcançou a fama depois de lançar uma coletânea de contos chamada How to Breathe Underwater, no qual o humor irônico era uma marca constante.  De volta ao universo da escrita, a autora se utilizou da experiência de seus avós, judeus húngaros, durante a Segunda Guerra Mundial para trazer uma história sobre irmãos, família e o impacto que uma guerra pode ter nas relações humanas em “A Ponte Invisível”.
Andras Lévi é um estudante de arquitetura que deixa Budapeste rumo a Paris para estudar na École Spéciale d’Architecture. Na Paris de 1930, tudo é mágico, tudo tem seu charme, até mesmo Claire Morgenstern, uma envolvente viúva para a qual Andras deve entregar uma carta.  Tibor, seu irmão, consegue ir estudar na Itália e quer se formar médico. Mas quando a Guerra eclode, os dois são obrigados a voltar para a Hungria e lidar com as implicações que o preconceito contra os judeus pode trazer. Em meio ao desastre, ao horror e ao desespero, Andras e Tibor vão descobrir que o amor é o cerne que mantém uma família unida.

Editora: Companhia das Letras
Tradução: Rubens Figueiredo
Páginas: 728

domingo, 22 de janeiro de 2012

Livros aleatórios de ficção-científico-fantasiosa que merecem ser lidos - Parte I.


Por Carlos Gabriel F.

Antes de elaborar uma lista é necessário enfatizar que os itens abaixo descritos e devidamente mencionados estão sendo analisados por fatores subjetivos. Quero dizer: não foram registrados em cartório como os melhores já escritos ou que mereçam presença divina em suas respectivas estantes. Posso dizer que são livros absolutamente aleatórios, que li em um período de tempo e que creio merecer destaque aqui, neste espaço virtual que estamos criando paulatinamente.

O gênero que me chegou primeiramente à mente e que dá característica à lista é a ficção/fantasia, daqueles que narram estórias que existem apenas nas páginas amareladas e distanciam-se do plano real (quem sabe?); daquelas que criam seres novos e relacionamentos surpreendentes; que em cenários de horror traçam cenas de suspense capazes de dar vertigens; que dão vida àquilo que algum dia cientificamente possa vir a existir.

Já que estes aspectos foram mensurados, que comecemos:

O queridinho de outra queridinha, Anne Rice, “Entrevista com o Vampiro” (1976) é o primeiro de uma longa série, “Crônicas Vampirescas” e, vale ressaltar, incrivelmente escrito em apenas uma semana. A estória perpassa a vida de Louis de Pointe du Lac enquanto ainda mero mortal e sua finalização como vampiro. O livro traça uma bela discussão sobre mortalidade num cenário europeu, que conduz o leitor a questões filosóficas e dignas de serem refletidas: afinal a imortalidade é tudo que pensamos desejar? Um longa-metragem baseado no brochurado foi produzido em 1994 e conta em seu elenco com Tom Cruise. Ainda vale mencionar que a tradução brasileira foi realizada pela famigerada e amada Clarice Lispector.

“O mal é sempre possível. E a bondade é eternamente difícil.”





Rick Riordan, quem diria, me conquistara de forma sábia e infanto-juvenil. “O Ladrão de Raios” (2005) conta a estória de Percy Jackson – disléxico e com déficit de atenção –, Annabeth e Grover Underwood. O livro, primeiro de uma série cinco, traz em suas páginas um aglomerado de informações sobre mitologia grega – a qual, confesso, sou fã – com personagens marcantes e característicos. Os livros de Riordan são a personificação das batalhas antigas, já contadas, escritas e transmitidas ao logo dos séculos, mas com o diferencial de se passarem em pleno século XXI, onde semi-deuses – primogênitos de deuses com meros mortais – enfrentam dificuldades, sendo a primeira delas estudar no Acampamento Meio-Sangue, e encaram aventuras no submundo. O livro também fora adaptado para as películas em 2010, que, apesar de entristecer ao se desviar do enredo original, ainda merece ser visto por seus efeitos visuais. 

“Você deve ir para o oeste e enfrentar o deus que se tornou desleal (...)” 


Conheça por meio do eu-lírico de Daniel Handler, Lemony Snicket, os irmãos Baudelaire: Violet, Klaus e Sunny, órfãos e circundados por uma trama densa e gótica suburbana. O que mais me apaixona no livro primeiro, “Mau Começo” (1999), da então série de treze livros, “Desventuras em Série”, é o cenário de quase unicidade, característico e autêntico elaborado pelo autor, numa mistura surreal entre objetos anacrônicos e arquiteturas do início do século passado. Ao início do livro somos recomendados de abandoná-lo caso não estejamos adaptados a finais felizes. “Mau Começo” trata sobre morte e necessidade de sobrevivência perante os empecilhos da vida, numa forma bonita e pitoresca de demonstrar a união entre laços fraternais. Transfigurado para os cinemas em 2004, o filme reúne em apenas uma película os três primeiros livros da série – o que impediu de um melhor aprofundamento nos quesitos históricos.

“Caro Leitor, sinto muito dizer que o livro que você nas mãos é bastante desagradável.”


De tantos heróis da ficção, não poderia ficar de fora Stephen King. “Celular” (2006) não é de longe melhor do que “O Iluminado” ou que a série “A Torre Negra”, entretanto trata de assuntos tão macabros quanto. O evento primordial do contexto acontece no dia primeiro de outubro às 15h03 de uma época não mensurada e desimportante, em Boston: telefones celulares são agentes disseminadores de loucuras psicóticas, em que seus proprietários transformam-se em criaturas “fonáticas”, desprovidas de afeto humano e sedentas por carne. É nesse contexto que se encontra Clay Riddel, mero desenhista que tenta chegar em casa à procura de seu filho e ex-mulher. O livro é intenso, por absoluto, e traça uma crítica cruel ao capitalismo carnívoro dos diais atuais – ainda lembro-me de uma cena forte descrita minuciosamente nas páginas: um homem, totalmente nu, ainda (e apenas) com seus tênis Nike a correr pela avenida, à caça de novas presas e destinos adjacentes. 

“E o apocalipse foi iniciado apenas por aquele simpático toque                       de telefone celular.”


O clássico “O Hobbit” (1937) transporta-nos, enquanto leitores, para uma realidade paralela. J. R. R. Tolkien conta a estória do feito extraordinário realizado por Bilbo Bolseiro e seus amigos – mago Gandalf e treze anões –, que partem rumo às Montanhas Sombrias das Terras-Médias em busca do tesouro pertencente aos anões, roubados pelo dragão Smaug em épocas longínquas. A descrição desenvolvida por Tolkien é uma mescla surpreendente que remete à medievalidade e itens criados exclusivamente por uma mente literária de estilo impecável que Tolkien sabia realizar. Ao decorrer das páginas há a presença de desenhos belos e inesperados, que, por fim, auxiliam na imaginação do leitor. O livro – que tem por ordem cronológica anterior às narrações da trilogia “O Senhor dos Anéis” – ganhará vida nas telas do cinema em 2012 e 2013, já que a estória será dividida em duas partes.  

“Numa toca no chão vivia um hobbit. Não uma toca desagradável, suja e úmida, cheia de restos de minhocas e com cheiro de lodo; tampouco uma toca seca, vazia e arenosa, sem nada em que sentar ou o que comer: era a toca de um hobbit, e isso quer dizer conforto.”


O Guia Do Mochileiro das Galáxias” (1985) é o primeiro de uma “trilogia” de quatro (que na verdade são cinco), que originalmente era transmitido à população britânica via ondas radiofônicas, no período de 1978. Arrisquei-me a comprar a coleção num site de compras da internet por meros trinta e cinco reais e, por bem, não me arrependo do dinheiro investido. Por meio do humor ácido, sarcástico e cômico de Douglas Adams, os leitores são levados em aventuras por meio do hiperespaço e do cosmo. Os personagens Arthur Dent, Ford Prefect, Trillian, Zaphod Beeblebrox e Marvin (o robô maníaco depressivo) são orientados pelo (obviamente) Guia do Mochileiro das Galáxias, o “repositório padrão de todo o conhecimento e sabedoria”. O que não me era esperado nos escritos de Adams é a discussão de questões filosóficas e existenciais, na tentativa de responder às perguntas primordiais: o que fazemos aqui, de onde viemos, qual o nosso destino? O livro também foi adaptado aos cinemas e distribuído, principalmente, pela Walt Disney Pictures em 2005.

“Don’t Panic!”


Por último, mas não menos importante dos que acima citados, “Uma Princesa de Marte” (1917) é o primeiro de uma coleção de onze livros de Edgar Rice Burroughs, que relata a história romântica de John Carter nas terras desconhecidas de Marte (ou Barsoom, como é chamado por seus habitantes). Sua chegada no planeta distante acontece por motivos não revelados e resultantes da procura de abrigos em uma caverna. Desconhecido no meio de anônimos, Carter é aprisionado por criaturas hostis, mas de extrema inteligência. Entrementes, é apresentada Dejah Thoris, princesa de Helium, que à primeira vista rouba a perspectiva e foco do protagonista com seu amor carnal e respeitoso. O leitor se verá entretido em uma leitura dinâmica, semelhante às experiências traçadas no filme “Avatar”, de James Cameron – que revela: fora influenciado por Burroughs e suas estórias extraterrestres. 

“Eu não podia permitir que o acaso lhe desse ainda mais dor e sofrimento ao declarar que meu amor ao qual, com quase absoluta certeza, ela não corresponderia.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sweet Sixteen.

Por Arthur Franco

Diz o ditado que não se deve julgar um livro pela capa. E foi justamente a minha ação ao me deparar com Feios pela primeira vez. Um mundo em que fazer 16 anos significa fazer uma cirurgia para se tornar perfeito e ser protagonista de uma vida festas, enquanto ser feio é estar à margem da sociedade, era o que o resumo que a contra capa do livro trazia. Pensei comigo: seguindo a linha ‘Gossip Girl’, deve ser apenas outro livro com uma crítica à sociedade da perfeição, com personagens estonteantes que tem como única ocupação na vida a beleza e que, lá pela metade do livro, descobrem que a vida ‘perfeita’ não compensa, não tem significado. Mas por 9,90, numa promoção da Saraiva, quem não se sentiria tentado a levar o best seller de Scott Westerfeld para casa? 
Tão poucas vezes estive tão enganado acerca de um componente literário. E conforme a leitura foi evoluindo, me apeguei tanto que me vi procurando promoções para comprar Perfeitos e Especiais, os dois volumes seguintes da saga.
Essencialmente, a história é situada em um mundo futurístico, em que a tecnologia sofreu avanços inimagináveis e que a medicina chegou a um ponto que é possível transformar qualquer um em um ser perfeito: dentes magicamente do tamanho certo, linhas do rosto todas transformadas, doenças erradicadas e a pele livre de toda e qualquer imperfeição. Mas essa operação só acontece quando se completa 16 anos. Até essa idade, os feios são confinados em Vila Feia, sem poder usufruírem das festas glamurosas e da vida mansa de Nova Perfeição. E essa nova vida é o que Tally Youngblood sempre sonhou. Mas a poucos dias de completar 16 anos, a nossa protagonista conhece Shay, uma feia que não vê graça nenhuma na vida pós operação e da qual pretende fugir para se juntar à Fumaça. Conhecidos como um grupo de resistência que vive ainda à moda antiga, os Enfumaçados não seguem a vida perfeita, tirando o sustento da natureza e abdicando da tecnologia. Tally vê seu sonho se esfacelar quando Shay desaparece e os Especiais, as autoridades desse mundo pós apocalíptico, só a oferecem um caminho: se unir a eles contra os enfumaçados ou nunca ser perfeita. A decisão de Tally vai levá-la a um turbilhão de acontecimentos que ela não pode controlar e que fará com que ela questione o que é certo, o que é errado e o que significa ser perfeito.
O livro se mostrou diferente (e melhor) do meu primeiro preconceito, mas ainda assim trouxe o elemento central que eu esperava: a crítica à sociedade. E ainda não em um ou outro lado, mas a tecendo de forma sutil em diversas questões. A primeira é certamente a que salta aos olhos no plot central: até que ponto compensa ser perfeito? Em nenhum momento existe uma crítica tangível, mas ao decorrer dos acontecimentos, a protagonista (mais do que um lugar comum) descobre que ser um rostinho bonito tem um preço (alô alienação), mais alto do que o divulgado. Essa é certamente a questão central (e um jogo de valores morais e que pretende lançar uma ‘moral’ ao leitor) já utilizada em outros livros, como (supracitado) em Gossip Girl (Cecily von Ziegesar) e Bubble Gum e Hell Paris 75016 (ambos de Lolita Pille).
A próxima cutucada de Westerfeld é bem no ‘tanque de combustível’ da sociedade moderna. Os enferrujados (a nossa atual sociedade, na visão Westerfeldiana) foram arruinados pelo desenvolvimento de uma bactéria que se alimenta de petróleo e que trouxe caos e total desconfiguração da vida como conhecemos. No mundo futurístico de Nova Perfeição, os carros (por sinal, voadores) não são poluentes e até mesmo as roupas são recicláveis. Fica claro aqui o descontentamento com a atual sociedade capitalista (talvez até lembrando um pouco demais de Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley), mas que não passa disso: um simples desgosto e uma tentativa de motivar os leitores com lição de moral. Aborrecimento esse que se perde nas relações amorosas descritas em Feios, que podem ser comparadas ao romance Bella-Edward. Amores arrebatadores que surgem à primeira vista, mas sem nenhum fundamento ou (aparente) palpabilidade e credibilidade por parte dos leitores.
Por mais que possa parecer um livro ‘clichê’ com adição de elementos futurísticos, Feios ainda assim é uma ótima leitura. A descrição dos acontecimentos é envolvente e prendem o leitor, mas sempre com um toque ‘moralista’ por trás. Certamente uma leitura para aqueles dias de preguiça, mas que vai ter deixar com vontade de saber qual o segredo da perfeição.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Ler para crescer.


Por Arthur Franco

O site da ‘Educar para Crescer’, da Editora Abril, está com uma iniciativa muito bacana.
Intitulado A Volta Ao Mundo em Mais de 80 Dias, a página traz a indicação de obras literárias, cada uma de algum lugar do mundo. Estão na lista publicações já amplamente conhecidas, como Orgulho e Preconceito, da inglesa Jane Austen e Crime e Castigo, romance russo escrito por Dostoiévski. Mas o diferencial são os livros dos mais diferentes países, como o porto-riquenho Diário a Rum, escrito por Hunter S. Thompson ou Histórias dos Mares do Sul, em que Somerset Maugham retrata as ilhas do Pacífico Sul. 
O Brasil também está na lista, participando com os títulos Lemniscata – O Enigma do Rio (Pedro Drummond), O Tempo e o Vento (Érico Veríssimo), Poesias Completas (Mario de Andrade), Dom Casmurro (Machado de Assis), Dona Flor e seus Dois Maridos (Jorge Amado) e Grande Sertão: Veredas (Guimarães Rosa). 
Ao todo são mais de 50 países que compõem a lista. Vale a pena o clique. 


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Ode às cores esquecidas.

Por Carlos Gabriel F.

Para começar com o pé direito... haja fôlego! Enfrentamos essa necessidade de dar brilho ao primeiro qualquer-coisa-da-vida. Olhamos em distância e pensamos: tem que ser bem feito, caso contrário não ficarei satisfeito enquanto ser humano literário. E foi assim, procurando em ideias vagas e histórias passadas que encontrei em mente um livro que me cativara bastante enquanto ideologia: “Flicts”. Livrinho fininho, infantil, de fácil acesso on-line e de páginas coloridíssimas. “As melhores perspectivas são retiradas de mensagens simples”, já diziam.

“Flicts” é um livro do nosso querido desenhista Ziraldo, escrito em 1969, que narra a aventura de uma cor à procura de seu lócus na trama social. Flicts era uma cor assim: meio acanhada, rejeitada e esquecida nos cantos obscuros e medonhos da grande incógnita humana. Ela era triste, sobretudo, pois se comparada às outras cores era sempre considerada por sua fragilidade, aflição e feiúra. Não. Não existe nada no mundo, nada que seja Flicts. Não a deram um lugar na caixa de lápis, não a permitiram participar do arco-íris, não foi admitido que participasse de alguma bandeira internacional; nem mesmo o mar, em sua constante inconstância, reflexo do que lhe é exterior, lembrou-se da Flicts nos dias de amargura. 

Houve um momento, pois bem, em que Flicts parou de procurar. Rondou o mundo em busca de um espaço que preenchesse o seu vazio, mas deparara-se em diversas vezes com a negação absoluta. Olhou para longe, bem longe, e foi subindo, subindo. E foi ficando tão longe, e foi subindo e sumindo, e foi sumindo e sumindo. Sumiu.

Mesmos nos dias atuais, a Lua que nos observa à distância, nos dias claros, é Azul; nos crepúsculos à beira mar das tardes soturnas de outubro, a Lua é Vermelha, como uma imensa e gigantesca bola de fogo; nas noites claras, de céu aberto e nuvens inexistentes, a Lua passa a se tornar um Amarelo fumegante. O fato que se revela, entretanto, é que de pertinho, apenas quando se vislumbra o satélite de poucos metros, enquanto astronauta desgovernado a flutuar no vácuo, é que se percebe que a Lua é Flicts. A cor mostra-se, por fim, para quem de muito longe viera.

A questão é que o mundo é feito de cores. Uma mescla imensa e magnetizada de luzes que irradiam perante nossas perspectivas e ideologias já formadas. Cor é jeito de ser, modo de acatar; é maneira de transmitir a outrem o modo que se quer simbolizar. É mera cativação, é trama espiritual, é sentimento transfigurado em tonalidades que permeiam a epiderme e tocam o coração. Cito Carlos Drummond de Andrade em primeira oportunidade, que me arrebata em palavras sinceras: “(...) cor, muito além do fenômeno visual, é estado de ser, e é a própria imagem. Desprende-se da faculdade de simbolizar, e revela-se aquilo em torno do qual os símbolos circulam, voejam, volitam, esvoaçam — fly, flit, fling — no desejo de encarnar-se. Mas para que símbolos, se captamos o coração da cor?”. 

“Flicts” traz-me essa vontade de não deixar passar, de não permitir ir pra longe o que quero por perto: vislumbrar a pequenitude dos seres e, daquela forma, aceitá-los, sem ideias pré-concebidas ou matérias já formadas – quero conhecê-las, seja na excentricidade da natureza ou na vulgaridade da índole, descobrir cada diferença e espectro de cores possíveis e encontrar-me amando cada fragmento, cada centímetro de detalhe da vivência ali transposta, em explosões surreais de fluorescências. 



domingo, 15 de janeiro de 2012

A primeira vez de Lisbeth Salander.

Por Arthur Franco


Os Homens Que Não Amavam As Mulheres é o primeiro livro da Trilogia Millennium, que também engloba os livros A Menina que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo do Ar, todos escritor sueco Stieg Larsson. Lançado primeiramente em 2005, o livro já foi adaptado duas vezes para o cinema: uma primeira versão em 2009, produzida pela companhia sueca Yellow Bird; e agora uma versão americana de 2011, dirigida por David Fincher, responsável por A Rede Social e O Curioso Caso de Benjamin Button.  Nessa nova versão cinematográfica, Daniel Craig interpreta Mikael Blomkvist e Rooney Mara é Lisbeth Salander. 
  
A temática principal do livro é o abuso sexual de mulheres e como essa exploração tem proporções muito maiores do que podemos pensar. Ao longo de suas 528 páginas, Stieg Larsson apresenta uma história que é incomparavelmente bem escrita e cativante. Misturando elementos de um romance policial e questões políticas e sociais, Larsson consegue combinar todos os personagens e amarrar todas as pontas soltas de uma forma tão que chega a ser surpreendente. O elemento suspense está presente do início ao fim, e logo no primeiro capítulo o autor utiliza uma manobra que Dan Brown já é mestre: apresentar algum ápice da trama que prende o leitor desde já e que só será explicado muito à frente. 

Nesse caso, o mistério é acerca de Harriet Vanger, que desapareceu em 1966 sem deixar vestígio algum. Até o seu desaparecimento, Harriet presenteava seu avô, Henrik Vanger, com uma flor emoldurada todos os anos em seu aniversário.  O problema é que, mesmo depois de seu desaparecimento, Henrik continua recebendo uma flor a cada aniversário. Ainda assim ele está convencido de que ela está morta e que algum membro da sua família foi o responsável. É na busca da solução para esse enigma é que o livro consegue se desenvolver tão continuamente e a leitura se faz ágil.

O protagonista masculino é Mikael Blomkvist, um jornalista responsável por várias denúncias de escândalos e esquemas financeiros. É ele que vai investigar o que realmente aconteceu com Harriet, sob o pretexto de escrever uma bibliografia da Família Vanger.  Mas a verdadeira atenção da trama é Lisbeth Salander. Pálida, magra, com cabelo curto e muitos piercings, Lisbeth é o que podíamos chamar “antagonista-protagonista”. É aquele tipo de personagem subjetiva e aversiva que vai contra todas as regras e contra tudo que se espera dela, mas que ainda assim conquista nossa afeição. E, por mais anti-social que Lisbeth seja, o seu caminho vai se cruzar com o de Mikael, revelando que os segredos dos Vanger vão muito além do que se acredita e certos atos têm conseqüências incalculáveis. 

Um fato curioso sobre a Trilogia Millenium é que somente após a morte de Larsson, as obras foram publicadas. O autor morreu em 2004, vítima de um ataque cardíaco, e em 2005 foram descobertos os manuscritos da Trilogia. Muito se especulou sobre a sua morte, já que constantemente Larsson recebia ameaças de morte. Depois do lançamento, os livros foram um sucesso imediato, sendo A Rainha do Castelo do Ar o livro mais vendido nos Estados Unidos em 2010 segundo a revista Publishers Weekly. 

Os Homens que Não Amavam as Mulheres é certamente um daqueles livros que é difícil de colocar de lado depois que se começa a ler e só consegue para quando a última página é virada. 

Confira abaixo o trailer da versão americana de Os Homens Que Não Amavam as Mulheres: 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Gênese.


O blog “Dois Leitores” nasce da vontade de colocar no papel (ou pixels – leia como bem entender) narrações sobre o nosso maior romance existente em terra: os livros. Sejam eles brochurados, desmanchados ou esquecidos, serão mencionados neste espaço virtual que agora tomamos como vosso. Falaremos de forma exaltada sobre diversos assuntos, mas que possuem em ideal comum as palavras. O blog aqui apresentado é coordenado por dois jornalistas sonhadores, com vontade devastadora de viver, que têm em semelhança a vontade inigualável de fazer dar certo. Os nossos perfis semi-históricos estão traçados logo ao lado esquerdo da página e as variadas seções estão descritas abaixo. É com uma palavra simbólica que damos um ponta-pé nas nossas produções: leiam!

Da Caneta Para a Câmera: conheça o que está saindo das folhas encadernadas para se tornar sucesso nas projeções cinematográficas. 
Lançamentos: acompanhe o que é novidade no mundo da literatura. 
Summarium: resumos, reviews, críticas e o que mais tivermos para comentar sobre o que estamos lendo. 
Ex-libris: quer saber mais sobre aquele livro que apareceu em um filme/série? Aqui é o lugar. 
Carpe Omnium: uma lista com os melhores livros. A cada semana, uma nova categoria.