sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Hiatus (ou um tempinho entre as postagens).


Em alguns momentos precisamos parar, estender o caminho e refletir sobre novas reformulações. Não é o fim em absoluto, pelo contrário, mas um tempo pequenino entre duas postagens, um novo recomeço. O Dois Leitores terá uma férias trabalhosa para futuras transformações, no layout e no modo de sobreviver. Daqui algumas semanas voltamos melhor e mais capazes para viajar na brochura da inexplicável literatura.

Aguardamos vocês na volta!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Fronteiras da ficção.


Por Arthur Franco

Uma vez ou outra aparece livros que geram polêmicas e são até mesmo barrados em alguns países. Seja por motivos religiosos, sociais ou políticos, certas obras tem o dom de “colocar o dedo na ferida” de uma parcela da sociedade. A trilogia Fronteiras do Universo, de Philip Pullman, é um desses casos.


A Bússola de Ouro, A Faca Sutil e A Luneta Âmbar são três obras lançadas entre 1995 e 2000 e que levantaram opiniões negativas de diversos grupos cristãos. A história do primeiro livro acompanha Lyra Belacqua, uma garota de 12 anos que mora na Inglaterra. Entretanto, o universo de Lyra não é como o nosso. Lá, a alma das pessoas fica do lado de fora do corpo, se manifestando na forma de um animal, sendo essa manifestação chamada de Daemon. As crianças de Oxford começam a desaparecer misteriosamente, e cabe a Lyra tentar descobrir quem está por trás dos raptos. Nessa jornada ela encontrará bruxas, ursos de armadura, aeróstatas e contará com a ajuda de um instrumento poderosíssimo, a Bússola de Ouro.  Já em A Faca Sutil Lyra conhece Will Parry, um garoto do nosso universo que acidentalmente cai no universo paralelo. De posse de uma faca que pode cortar qualquer coisa, até mesmo brechas no tecido do espaço, Lyra e Will se unem para tentar descobrir o que é o Pó. No último livro Will e Lyra,com a ajuda de dois anos, têm de descer ao mundo dos mortos para tentar para o Pó e impedir que o vilão da série mate Deus, conhecido como A Autoridade.

Por abordar Deus como um ser que pode ser facilmente morto e retratar o mundo dos mortos de uma forma diferente daquela da Bíblia, Pullman recebeu diversas críticas de grupos católicos. No último livro vemos Deus como uma criatura tirânica e que não construiu o universo. O mundo dos mortos é um local terrível para onde todas as almas vão para passar o resto da eternidade sofrendo. Além disso, a crítica a Igreja é evidente. Em diversas passagens Pullman fala de como a Igreja controla e destrói tudo de bom, de como as pessoas que foram contra os ideais religiosos foram sendo calados ao longo da história da humanidade.


A coleção é fascinante. O leitor fica curioso com qual será o próximo passo da protagonista, além de que Pullman constrói um universo intrigante e muito bem arquitetado. Cada personagem tem sentimentos humanizados e dilemas típicos de todo indivíduos. Independente das críticas, o autor construiu uma obra certamente magnífica.  

domingo, 5 de agosto de 2012

A abelha-rainha.

Por Carlos Gabriel F.

Pretendo chegar na literatura por meio do jornalismo. Traço isso como uma meta de vida. E ver autores que admiro que trilharam o mesmo caminho é encorajador. Carlos Eduardo Novaes, sendo um pouco de tudo, lança-se em 2000 com um livro excitante nomeado “O menino sem imaginação”. Escrever um livro de tamanha primazia provavelmente é como dominar um animal selvagem; elucidar no leitor brasileiro a necessidade de mudança.

“Prefiro a realidade da minha imaginação – disse – a ter que imaginar minha realidade.”

Tavinho é um menino que trata suas tevês como pessoas. Concede a elas os seus poderes de imaginação. Sua telinha interior, assim chamada o poder de sua criatividade imagética mental, nunca funcionara e provavelmente veio com defeito de fábrica. Quando questionado para criar algo que nunca havia visto, o garoto se põe a temer o resultado.

“O real só existe onde a fantasia não foi descoberta.”

O futuro se dá pelo seguinte: uma transformação meteorológica, fenômeno exclusivo, alguns raios do universo e umas partículas soltas na atmosfera que impedem, sobretudo, que as ondas imagéticas sejam percorridas pelo território nacional. Toda uma população (aquela que comprovadamente é a que mais assiste tevê no globo terrestre) vê-se diante o inesperado de sobreviver sem um entretenimento divino.

“Sartre disse que ela é a consciência do nada.”

É neste momento que nosso personagem põe-se a perguntar de onde vem sua imaginação, porque tudo que produzia em sua mente era uma cópia da cópia da cópia (viva Chuck Palahniuk!). Como não acreditar que nossa imaginação é puro e simples efeito colateral de uma vida aprisionada por ideias já vistas? Como não perceber que, nesta sociedade do panóptico, cada vez mais atribuímos nosso valor imaginativo a uma rede social de delírios consumistas?

“A vida seria muito chata se a gente não pudesse delirar de vez em quando.”

O livro de Carlos Eduardo é de uma escrita leve, reflexiva-indutiva; uma forma lógica de nos colocar no lugar de Tavinho, e toda sua família viciada em um simples eletrodoméstico, para questionarmos o verdadeiro valor que damos para uma emissora. Tavinho tinha lá suas três televisões em um ambiente fechado, recluso, onde engolia tudo que era lhe passado e vivia para aquilo: o puro bel prazer uma vida induzida ao coma intelectual. “O menino sem imaginação” é um ensaio, principalmente, sobre aquilo que mais temo: a falta de habilidade de criação. 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A obra-prima da mitologia.


Por Arthur Franco

Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, mitologia é a história das divindades do paganismo, a explicação dos mitos ou um conjunto de fábulas. Entretanto, mitologia é um termo tão grandioso que abrange muito mais do que isso. Fala das lendas e dos mitos sem um autor definido, que passa de boca em boca por gerações. São histórias de heróis, deuses, musas que visam explicar o mundo e seus fenômenos.

Nesse sentido, a mitologia grego-romana é certamente a mais famosa. Até hoje sabemos de lendas e mitos originários desse período histórico e utilizamos vocábulos e conceitos desenvolvidos por essas civilizações.


O Livro da Mitologia, de Thomas Bulfinch, visa reunir a maior quantidade de histórias sobre deuses e heróis em um livro de excelente qualidade. Podemos tomar a obra como um dicionário, sem o rigor acadêmico, mas ainda assim rico em informações e figuras. Thomas descreve os mitos com precisão e depois faz um apanhado de obras em que as histórias foram mencionadas. Certamente um livro fundamental para aqueles que, como eu, são apaixonados pela mitologia.    

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Do tipo vi-na-prateleira-e-me-apaixonei.


Por Carlos Gabriel F.

Do tipo vi-na-prateleira-e-me-apaixonei: “Como ficar sozinho” de Jonathan Franzen. Peguei entre as mãos e amei logo de abertura a primeira frase que meio em exposição lógica diz: “A dor não nos matará”. Neste paradoxo de entender o mundo político e viver subjetivamente feliz me instigo a procurar, entre livros amarelados ou felizes por acabarem de saírem das fábricas, a verdadeira essência da narração contemporânea: o entender da solitude humana meio à tecnologia unilateral que diversifica o mundo.


O livro de Franzen parece-me um conjunto de ensaios selecionados a partir de obras anteriores. Li na sinopse pequena que, a partir de suas experiências humanas, questionamentos, solidões, ele aborda assuntos como o suicídio, a demência, a invasão panóptica da privacidade. Em pequenos trechos e no pouco que pude ler, o autor faz referências a grandes autores da literatura e da sociedade (lembro-me do nome de Kafka entre as linhas diversas linhas do parágrafo saboreado). Meio a tantas admissões, fragilidades e recusas ao auto-engano, o autor luta para encontrar meio a palavras o verdadeiro sentido da combustão de valores da modernidade – deteriorada ao tecnoconsumismo  –,  para elaborar em um ensaio grandioso o que amedronta grande parcela de uma humanidade. 

“Podemos de vez em quando suportar o fato de que nem sempre somos curtidos, pois existe uma gama infi nita de pessoas que, potencialmente, podem nos curtir. Mas nos expormos por inteiro em nossa individualidade, e não apenas a superfície curtível, e sermos rejeitados, é algo que pode ser insuportavelmente doloroso. Em geral, a perspectiva da dor, da dor da perda, da separação, da morte, é o que torna tão tentadora a ideia de evitar o amor e permanecer em segurança no mundo do curtir.”