domingo, 5 de agosto de 2012

A abelha-rainha.

Por Carlos Gabriel F.

Pretendo chegar na literatura por meio do jornalismo. Traço isso como uma meta de vida. E ver autores que admiro que trilharam o mesmo caminho é encorajador. Carlos Eduardo Novaes, sendo um pouco de tudo, lança-se em 2000 com um livro excitante nomeado “O menino sem imaginação”. Escrever um livro de tamanha primazia provavelmente é como dominar um animal selvagem; elucidar no leitor brasileiro a necessidade de mudança.

“Prefiro a realidade da minha imaginação – disse – a ter que imaginar minha realidade.”

Tavinho é um menino que trata suas tevês como pessoas. Concede a elas os seus poderes de imaginação. Sua telinha interior, assim chamada o poder de sua criatividade imagética mental, nunca funcionara e provavelmente veio com defeito de fábrica. Quando questionado para criar algo que nunca havia visto, o garoto se põe a temer o resultado.

“O real só existe onde a fantasia não foi descoberta.”

O futuro se dá pelo seguinte: uma transformação meteorológica, fenômeno exclusivo, alguns raios do universo e umas partículas soltas na atmosfera que impedem, sobretudo, que as ondas imagéticas sejam percorridas pelo território nacional. Toda uma população (aquela que comprovadamente é a que mais assiste tevê no globo terrestre) vê-se diante o inesperado de sobreviver sem um entretenimento divino.

“Sartre disse que ela é a consciência do nada.”

É neste momento que nosso personagem põe-se a perguntar de onde vem sua imaginação, porque tudo que produzia em sua mente era uma cópia da cópia da cópia (viva Chuck Palahniuk!). Como não acreditar que nossa imaginação é puro e simples efeito colateral de uma vida aprisionada por ideias já vistas? Como não perceber que, nesta sociedade do panóptico, cada vez mais atribuímos nosso valor imaginativo a uma rede social de delírios consumistas?

“A vida seria muito chata se a gente não pudesse delirar de vez em quando.”

O livro de Carlos Eduardo é de uma escrita leve, reflexiva-indutiva; uma forma lógica de nos colocar no lugar de Tavinho, e toda sua família viciada em um simples eletrodoméstico, para questionarmos o verdadeiro valor que damos para uma emissora. Tavinho tinha lá suas três televisões em um ambiente fechado, recluso, onde engolia tudo que era lhe passado e vivia para aquilo: o puro bel prazer uma vida induzida ao coma intelectual. “O menino sem imaginação” é um ensaio, principalmente, sobre aquilo que mais temo: a falta de habilidade de criação. 

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