quinta-feira, 29 de março de 2012

O pijama (in)desejado.


Por Carlos Gabriel F.

Bem diria que em tempos de guerra, quem desconhece o caminho da inocência é rei. Bem diria Bruno que o que lhe importava nos tempos passados era uma casa grande para brincar com seus amigos e uma imaginação inigualável para determinar quando seria hora de parar. É sobre uma amizade nunca antes testemunhada que “O Menino do Pijama Listrado” vem a relatar: a inconcebível amizade entre aqueles que, numa época irracional perseguição e mudanças repentinas, gostariam tanto de diversão. 

John Boyne constrói, sem apelações ou narrações macabras, a história de Bruno, o menino aventureiro que, como já bem dito, deixa Berlim e parte rumo a uma região desolada, sem laços fraternais, para se deparar com a realidade de uma Alemanha em época de Holocausto. Do seu novo quarto era possível assistir àqueles que, para além da cerca, vestiam pijamas e davam-lhe frio na barriga. 

É numa de suas andanças pelas redondezas – porque com o tempo a casa se torna pequena, não há mais espaço e bem menos colegas para se brincar de dias de glória –, que Bruno se encontra com o menino de nome engraçado: Shmuel. Ele está para além da cerca, naquele lugar, que diz ele, o deixa fraco perante tanto trabalho; seu pai era trabalhador, dos simplistas, e vieram parar ali por uma ideologia que adotaram por gerações.  

A inocência de Bruno é marcante junto à sua alegria em ajudar àquele que toma como novo amigo. Nas peripécias da narração de Boyne, vemo-nos na vontade prematura de que, ao final, ambos os meninos consigam tramar uma fuga da realidade cruel e brinquem, por eras indefinidas, na imaginação que criarem. Somos tomados pelo sentimento da inocência, assim como dos personagens: apaixonamo-nos por Bruno e Shmuel nos seus tempos desesperada de sobrevivência.

A película lançada em 2008 e dirigida por Mark Herman é bem fiel à história original. A leitura, entretanto, torna-se quase que obrigatória. A fábula ditada rapidamente por John é de tamanha magnificência, transformando o inesperado em realidade literária, que é impossível não se emocionar ao final. Um final trágico mas de uma ideologia fantástica e necessária. É preciso consumir o livro, imaginar-se no lugar dos personagens cativados e pensar se faria diferente: se, naquela época de contexto diferente, tornaria a sua história divergente, se tomaria um pensamento diferente, se ajudaria aqueles que necessitavam de ajuda.

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