domingo, 20 de maio de 2012

Caro Ed.


Por Carlos Gabriel F.

Que você já se deparou com Lemony Snicket em algum ponto da sua vida literária é um fato. Seja depois de ver na Sessão da Tarde o filme “Desventuras em Série” e querer ler todos os livros porque, poxa vida, se o filme parece ser tão legal os livros devem traçar uma perspectiva melhor ainda! E ao se deparar com os livros e saber que, exatamente, são algumas proporções milionésimas melhores que o filme, saiba, com alguma pesquisa on-line de fácil acesso, que o cara por trás do pseudônimo é Daniel Handler

Andando meio às livrarias, desatento por todos, deparei-me com o nome empregado em uma nova brochura de suas lá 400 páginas, com desenhos coloridíssimos e de autoria de Daniel. Que surpresa! Eu que não imaginava o autor em outras demandas orgânicas que não as da história dos irmãos Baudelaire, não acreditava que o escritor tivesse um projeto para o público adulto (e com desenhos!).

Ao chegar em casa, procurando pelo livro de nome datado como “Por isso a gente acabou”, noticiei que fora lançado recentemente no Brasil, no final do mês passado e que fala daquilo que tememos por tanto: finais de relacionamento e as suas angústias e incertezas subsequentes. A trama carregada de tragicomédia retrata a história de Min Green e Ed Slaterton: estudantes que depois de intensas semanas de namoro, acabam-se em lágrimas no término do que antes era perfeito. Depois de muito sofrer, Min resolve entregar ao seu antigo homem uma caixa com objetos significativos para o casal, o que marca o final definitivo de uma história. 

Os desenhos da história foram feitos por Maria Kalman, autora de diversas ilustrações de revistas americanas. As suas pinturas dos objetos na caixa de Min trazem uma incrível dinâmica para a história e faz dela mais interativa ao decorrer do vai-vêm do casal. 

Caro Ed,

Daqui a um segundo você vai ouvir o tump. Na porta da frente, aquela que ninguém usa. Quando ela tocar no chão, vai balançar as dobradiças, porque é pesada e importante, vai ter esse outro barulho junto com o tump, e a Joan vai tirar os olhos de  seja lá o que for que ela estiver cozinhando. Ela vai olhar para a panela de novo, preocupada, porque, se for até a porta para ver o que é, vai cozinhar demais. Eu a vejo franzindo a testa no reflexo do molho borbulhante ou sei lá o quê. Mas ela vai ver, ela vai. Você não vai, Ed. Não veria. Você deve estar no andar de cima, suado, sozinho. Você devia estar tomando banho, mas está de coração partido na cama, eu espero, por isso é a sua irmã, a Joan, que vai abrir a porta mesmo que o tump seja para você. Você nem vai saber o que é nem ouvir o que está sendo jogado na sua porta. Você não vai nem entender por que aconteceu.

O dia está lindo, ensolarado e tudo mais. É daqueles dias em que você acha que tudo vai dar certo etc. Não era o dia para isso, nem para nós, que saímos de 5 de outubro a 12 de novembro. Mas já é dezembro e o céu está claro, assim como tudo agora está claro para mim. Estou contando por que a gente acabou, Ed. Estou escrevendo, nesta carta, toda a verdade sobre o que aconteceu. E a verdade é que, porra, eu te amei demais.

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