Por Carlos Gabriel F.
Antes de elaborar uma lista é necessário enfatizar que os itens abaixo descritos e devidamente mencionados estão sendo analisados por fatores subjetivos. Quero dizer: não foram registrados em cartório como os melhores já escritos ou que mereçam presença divina em suas respectivas estantes. Posso dizer que são livros absolutamente aleatórios, que li em um período de tempo e que creio merecer destaque aqui, neste espaço virtual que estamos criando paulatinamente.
O gênero que me chegou primeiramente à mente e que dá característica à lista é a ficção/fantasia, daqueles que narram estórias que existem apenas nas páginas amareladas e distanciam-se do plano real (quem sabe?); daquelas que criam seres novos e relacionamentos surpreendentes; que em cenários de horror traçam cenas de suspense capazes de dar vertigens; que dão vida àquilo que algum dia cientificamente possa vir a existir.
Já que estes aspectos foram mensurados (novamente. Confira a parte I, II, III, IV, V e VI! que comecemos):
Para descrever Ken Follett eu utilizaria a palavra “catedrais”. Não como uma parte religiosa fervorosa que vê necessidade em se traduzir em palavras, mas como evento social. Datada na Idade Média, é envolta de uma que “Mundo Sem Fim” (2007) começa. O autor mais uma vez nos leva através de histórias incríveis, sendo uma delas o ápice inicial: quatro crianças presenciam o assassinato de um homem em uma floresta nas redondezas do condado de Kingsbridge. E como bem sabe fazer Ken Follett, este crime ligará os personagens durante as novecentas próximas páginas – recheadas de ação, intrigas, guerras, romances inesperados: atacados pela peste negra.
“You see, all that I ever held dear has been taken from me," she said in a matter-of-fact tone. "And when you've lost everything-" Her facade began to crumble, and her voice broke, but she made herself carry on. "When you've lost everything, you've got nothing to lose.”
José Saramago volta mais uma vez na lista para apresentar “ Claraboia” (publicado em 2011, mas escrito em 1953), rejeitado a priori pelo seu editor no início de sua carreira, mas que foi dado à luz na contemporaneidade. Sob o pseudônimo de Honorato, conhecemos, com uma literatura jovial, a origem daquilo que viria a se tornar o crítico autor. A história em si é simplista, como boa parte de suas outras: em Lisboa um prédio é habitado por seus mais diferentes condôminos; interligados pelos corredores, portas e janelas, os personagens aqui representados administram suas diferentes escolhas e modos de vida, o que, na linguagem de Saramago, torna-se um surpreende estrondo de contrapontos.
“Aproximou-se da janela e abriu-a. Na rua, mesmo em frente, estava um rapaz, à chuva. Rosália fechou a janela com estrondo. Ia ralhar, mas deu com os olhos da filha, postos em si, uns olhos frios onde parecia brilhar a malignidade do rancor. Atemorizou-se. Maria Cláudia, sem pressas, tirava o impermeável. Algumas gostas de água tinham molhado o tapete.”
Impossível não gostar de ficção e não ter pego em mãos um livro do Sidney Sheldon. Comecei com “O Reverso da Medalha” (1982) e admirei tanto como esse homem é capaz de tirar regozijo literário do simples nada. Nesta brochura, o autor nos leva até a África do Sul para então começar a história de McGregor e como se sucederia futuramente sua multinacional, com as gêmeas Eve e Alexandra. O enredo é marcado por controversas e tentativas de assassinato entre familiares com o simples e único objetivo de manter o poder em modo individual. O que move a família McGregor é a fome pela vingança, o mundo a ser conquistado.
“O leão faminto dissimula as garras. Modificaremos tudo isso no momento apropriado. O branco aceita o preto porque precisa dos seus músculos, mas tem de se habituar a aceitar-lhe também os miolos.Quanto mais nos empurra para um canto, maior o medo que lhe inspiramos, porque sabe que um dia poderá haver discriminação e humilhação de sinal contrário, perspectiva que se recusa a admitir.”
Que venha mais uma vez o rei do feroz do macabro. “It: A Coisa” (1986) de Stephen King conta a história, mais uma vez macabra, de sete indivíduos que, enquanto crianças, depararam-se com uma criatura centenária que consumia o medo e alterava sua forma. Após trinta anos, a criatura volta a assustar outras crianças, e os sete sujeitos, como haviam prometido, juntam-se para combater aquele que te marcaram – o que coloca em absoluto as suas sobrevivências. Aqui percebemos a peculiaridade de Stephen ao se mostrar tão capaz de uma descrição bem elaborada e peculiar, datada como a obra prima do medo.
“Naturalmente, ele não contara isso a ninguém. Nada no mundo o faria contar, nada o induziria a revelar sua fantasia secreta, escondida bem no fundo do coração. Se pudesse enunciar a frase que ela lhe ensinara casualmente, certa manhã, quando ela e Georgie estavam sentados, vendo Guy Madison e Andy Devine em As Aventuras de Wild Bill Hickok, aquilo seria como o beijo que despertara a Bela Adormecida de seus sonhos frios para o caloroso mundo do amor do príncipe no conto de fadas.”
“A Breve Segunda Vida de Bree Tanner” (2010), de Stephenie Meyer, provavelmente é seu segundo melhor livro – já que “A hospedeira” veio em primeiro. O livro é narrado de forma direta, em um único bloco de texto em cento e noventa páginas, sem divisões em capítulos. Nossa personagem que, como já sabemos, morre ao final de “Eclipse”, aqui é demonstrada como nunca antes: sua personalidade, vida, sentimentos e demonstrações são exibidas à degustação literária. Apaixonamo-nos por Bree e evitamos o final inconsequente; criamos expectativas de que a última frase, de algum modo, seja alterado para o bel-prazer dos leitores.
“No segundo em que os dedos de Diego encontraram o raio de luz, a caverna foi invadida por um milhão de reflexos brilhantes e coloridos, um verdadeiro arco-íris. A claridade era como a luz do meio-dia em uma sala de vidro – havia luz para todos os lados. Eu me encolhi e um tremor percorreu meu corpo. Estava completamente coberta pela luz do sol.”
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