sábado, 26 de maio de 2012

"Que, então, isto é tudo o que significa estar vivo: estar preparado para morrer."

Por Carlos Gabriel F.

Eu gosto de acariciar livros e suas páginas amareladas. Gosto de passar os dedos nos volumes e suas peripécias existenciais em formato de brochura; gosto de desfilar a epiderme pelas diferentes texturas assim como quem adora andar na rua cabisbaixo a trilhar um caminho meio a grades de edificações antigas. Gosto, amo, e, por vezes, vivo para isso. Descubro histórias na imaginação destinatária filosófica de que meus dedos encontrem algo que me seja encaixado no plausível.


Foi assim que me descobri com “A única certeza da vida é que um dia você vai morrer” entre as palmas, devorando algumas páginas e amargurando algumas lágrimas a não serem soltas com o primeiro trecho disponível. No meu chorar involuntário desejei em ardência que aquele livro fosse meu. David Shields (que belo sobrenome em uma tradução literal e solúvel para o português), que dedica ao seu pai de noventa e sete anos sua singela história, narrada em uma raiva tão grandiosa do simples existir, é um ensaio sobre nossa condição biológica. David aprofunda no seu âmago, no seu subjetivo, a fim de demonstrar a exploração de nossa existência. 

Ao nos levar em uma linha cronológica de três gerações, aprofundamo-nos na nossa própria história, que, se vista de perto, bem de pertinho, é tão brilhante e original — e é nesta brevidade ilustre que o autor quer se afogar para conseguir relatar sua experiência; uma autobiografia de seu próprio corpo de cinquenta e um anos, tangente da transitoriedade frágil de uma realidade mesquinha ideologicamente dividida. David faz em sua brochura uma investigação daquilo que parece ser tão simples: a vida. Contemplamos a rapidez  da vivência de sua história enquanto nós, igualmente inaceitáveis mortais, rimos, choramos, mu-da-mos de acordo com os acontecimentos historicamente demonstrados. Encaixamo-nos no lócus da leitura e observamo-nos a vagar na insanidade do viver com a única certeza de que um dia morreremos.

“Esta é a minha pesquisa; isto é o que sei agora: os fatos cruéis da existência, a fragilidade e a transitoriedade da vida em sua nua realidade corpórea; os seres humanos como animais desolados e divididos; a beleza e o sentimento que existem no meu corpo, no corpo dele e no de todo mundo igualmente.
Parece que estou sempre dizendo: aceite a morte. 
E a resposta dele, inteiramente compreensível, é: aceite a vida.”

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