segunda-feira, 2 de abril de 2012

Ao canto dos tordos.

Por Carlos Gabriel F.

Estreou na penúltima sexta-feira do já despedido mês de março, 23, a tão esperada película, dirigida por Gary Ross – também responsável por “Seabiscuit - Alma de Herói” e “A Vida em Preto E Branco” –, intitulada como “Jogos Vorazes”.


Precisa-se notar que minha perspectiva diante a trama criada previamente por Suzanne Collins em meados de 2008, para qual o filme tomou como base, ainda é recente. Recentíssima, aliás. Havia lido, nesse oceano cibernético, sobre como a brochura era interessante e que deveriam constar nas listas de “livros aleatórios de ficção-científico-fantasiosa que merecem ser lidos”. Apesar da edição brasileira ter chegado nas prateleiras ainda em 2010, por meio da editora Rocco, encontrei-me com as páginas apenas semana passada.

Suzanne, como bem vale ser lembrada, teve uma carreira voltada para o infanto-juvenil. A norte-americana, de madeixas castanhas e olhos acinzentados de tamanha doçura, já trabalhou com o canal televisivo Nickelodeon, onde ajudou na produção de programas tais como “Clarissa Explains It All” e “The Mystery Files of Shelby Woo”. A comunicadora formada em Indiana University passou, então, para o âmbito literário, em que se dedicou, primeiramente, a livros inteiramente infantis, muitos inspirados no já conhecido “Alice no País das Maravilhas”. Foi em 2008, então, que lançou o início de uma trilogia: “Jogos Vorazes” teve a sua ansiosa gênese. 

Pois bem, direcionemo-nos ao enredo do livro. Aqui se retrata a história de Katniss, moradora do Distrito 12, no país de Panem (antiga América do Norte, diga-se de passagem) e comandada pela Capital. É nesse lugar que acontece anualmente o que chamamos de Jogos Vorazes (ou Hunter Games, para os poliglotas): um reality show, onde um menino e uma menina de cada um dos dozes distritos são escolhidos, por meio de sorteios, a fim de batalharem até a morte em um campo residido na Capital. É na edição septuagésima quarta que Katniss vem a participar – em forma de tributo, para impedir que a sua irmã mais nova, escolhida no sorteio feminino, fosse para algo que não estava ainda preparada.

Junto a Peeta, Katniss vê-se indo para o lugar em que precisará batalhar por sua vida. A narração tramada por Suzanne é direta, sem rodeios e lirismos; as suas ideias são sobrepostas nas páginas e transmitem aquilo que é desenvolvido em sua mente, por vezes, muito criativa. A sua obliquidade é tamanha que desacostuma; digo: sente-se falta de tempo para respirar devido a sua forma subjetiva de escrita. Lemos, por meio da narração de Katniss, que aqui se torna a personagem principal, o que acontece em seu círculo de visão.

Enquanto o livro preza por sua característica sui generis, o filme não é diferente. A grande sacada de Gary Ross reside, entretanto, em mostrar além do que se é permitido conhecer no livro com a visão de Katniss. São retratados, entrementes, os bastidores do programa e seus momentos adjacentes – esses lapsos, por vezes, ficam subentendidos na narração de Suzanne, mas não é algo que se torna explícito com uma narração para além.

As diferenças entre brochura e película são diversas e, às vezes, pequenas e detalhistas – mas não tamanhas como em Percy Jackson, lembram-se? –, contudo, não é nada que torne o filme inutilizável. A adaptação nos quesitos fotografia e roteiro podem ser parabenizados de modo exemplar. Seja por questões éticas ou moralistas, no longa não é citado, entretanto, que o lugar ali retratado era, em épocas passadas, território norte-americano – o que concebe, na brochura, uma das grandes críticas ao modo como se propõe a estrutura social atual, principalmente na grande potência mundial, em que se distingue na indústria cultural massificada a admiração por aquilo que, se visto mais a fundo, é de retrato feroz em enlace à carnificina social hoje representada.

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