segunda-feira, 30 de abril de 2012

Nota mental: não ultrapassar os 10,5.


Por Carlos Gabriel F.

Olhei para a pilha de livros que casualmente deixo acumular com o tempo – culpem a universidade, professores e sujeitos adjacentes que me desmerecem de momentos agradáveis de leitura em que não fico pensando nas outras tarefas acadêmicas que deveria estar exercendo –, resolvi folhear um novo, emprestado recentemente por um caro em especial. Mentalizei minha necessidade, analisei o contexto meteorológico – atire a primeira pedra quem não avalia livros pelo clima! – e pensei naquilo que seria inovador. “Qual seu número?” se distinguiu entre todos os demais com sua áurea romancista e foi, então, o escolhido. 

Uma brochura do gênero nunca havia me passado pelas mãos; histórias de amor o máximo que havia lido era o relacionamento vampiresco e obscuro de Lestat de Lioncourt e Louis de Pointe du Lac. O resultado após as dez primeiras páginas foi de amor instantâneo: gostei de como Karyn Bosnak traça a trajetória de sua personagem sem presunção, revelando histórias inovadoras e que nos fazem esboçar sorrisos nos lábios. Para o recesso prolongado que acontece aqui no Brasil, imergido em um frio bom e de céu nublado, era tudo que eu precisava. 

Comecemos com o hilário-histórico-narrativo: Delilah Darling beira os seus trinta anos e já fez sexo com dezenove caras (sim!) – quando a média para mulheres normais beira os 10,5, como bem aponta um  estudo de um tablóide americano; e complementam: quem está acima deste número não seria possível encontrar uma pessoa certa. Desesperada (e vagabunda), Delilah vê-se na necessidade de se auto-impor um limite: vinte, vinte caras seria o máximo ou entraria para o celibato. “Eu olho para ela. Pobre anjo, discriminada por todas as cadelas mais novas, mantida presa no porão porque ela é mais velha do que todos os outros filhotes da loja. Telepaticamente, eu digo a ela que a entendo. Eu me senti do mesmo jeito depois que Rod e eu paramos de nos ver. Eu também era mais velha do que todas as cadelas disponíveis, e a competição havia ficado dura demais. (...) ‘Várias pessoas brincam com ela, mas ninguém assume o compromisso?’ Novamente, eu digo a ela por telepatia que entendo como ela se sente. Quando pisca os olhinhos pra mim de novo, sinto como se estivesse me olhando no espelho. Se houvesse um universo paralelo habitado por cachorros, então essa pequena yorkshire seria uma versão de mim”.

Delilah, com um emprego digno, é então despedida. E, para garantir sua infelicidade mergulhada nas margueritas, vê-se no dia seguinte deitada na cama do homem mais imprevisível e nojento da cidade. Desesperada, a mulher se encontra diante o improvável: havia alcançado o limite. Em uma solução encontrada desesperadamente, Delilah conclui que deve “voltar” no tempo e visitar cada homem que foi para cama. É aqui que começa a viagem de redenção: a personagem passa por cada canto do país em busca daquele uma vez fez parte de sua história, em uma tentativa de reatar um relacionamento que, porventura, não se ramificou para o presente. Com várias metáforas e referências culturais, Karyn consegue prender o leitor com seu modo crítico e cômico de narrativa. Delilah nos conta do seu passado e nos diverte com suas histórias improváveis, fazendo-nos refletir sobre nossos laços afetivos e como agimos nas mais diferentes circunstâncias.

“É engraçado perceber a velocidade com que as coisas podem mudar. Sentimentos, não importa o quanto sejam intensos, podem ser efêmeros. Em um estalar de dos, a felicidade pode se transformar em tristeza; a esperança pode se transformar em desespero; e, um belo dia, o passado chega para causar assombro, e faz com que se perceba que é preciso pisar no freio.”

P.s.: o livro já foi adaptado aos cinemas, mas ainda não tive a oportunidade de conferir.

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