quarta-feira, 4 de abril de 2012

Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde.

por Arthur Franco

“ – Adeus – disse a raposa. – Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.” Talvez seja uma das frases mais clichês que se tem notícia, principalmente em tempos do falecido Orkut. Mas O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, continua a ter um lugar especial no coração de quem leu essa obra admirável.  

Existem sempre aqueles que julgam o livro como uma obra infantil, seja pela presença constante das aquarelas do autor, seja pela linguagem simples e pelo rumo que a história toma até o seu final. Mas, como diz o próprio Exupéry no prefácio, “todas as pessoas grandes foram um dia crianças. (Mas poucas se lembram disso)”. Aqueles que já conheceram a história do principezinho que decide sair do seu pequeno planeta para ver o mundo, sabem que o enredo por trás daquelas ingênuas palavras e das alegorias contadas através de raposas, geógrafos e rosas é bem maior e bem mais tocante. 


Aproveitando-se de uma revoada de pássaros que emigravam, o pequeno príncipe decidiu que era hora de conhecer outros planetas. Foi assim que passou pelo planeta do vaidoso, do bêbado, do homem de negócios, do acendedor de lampiões e do geógrafo, até desembarcar no maior deles: a Terra. Não era um planeta qualquer, “contam-se lá cento e onze reis (não esquecendo, e claro, os reis negros), sete mil geógrafos, novecentos mil negociantes, sete milhões e meio de beberrões, trezentos e onze milhões de vaidosos - isto é, cerca de dois bilhões de pessoas grandes.” É ali que o garoto com cabelos de ouro e que não responde quando o interrogam encontra a sua passagem de volta para casa e apresenta o personagem mais querido e cativante do livro. A raposa, dona do célebre diálogo sobre cativar e sobre o essencial ser invisível aos olhos, nos é apresentada de forma breve e aparece em um só capítulo, mas mesmo assim se tornou a personagem mais célebre de toda a obra. É com ela que o príncipe mais vai aprender e que nós, do lado de fora da narração, mais vamos tomar consciência de quem é importante nas nossas vidas. 

O vocabulário fácil, mas permeado de metáforas e constatações filosóficas, transforma O Pequeno Príncipe na obra extraordinária que ele merece ser. Os diálogos são construídos de forma sistemática e indutiva, que permite que o leitor tenha vários olhares sobre a mesma sentença e diversas conclusões acerca de uma mesma conversa ou de um determinado personagem. É fácil encontrarmos geógrafos, serpentes e vaidosos no nosso dia a dia, a Terra está mesmo cheia deles. O que precisamos é identificar quem são as raposas e as rosas do nosso universo simbólico e de que forma estamos a cativar os sentimentos alheios. 

É nesse sentido que o príncipe de Exupéry tenta, assim como o acendedor de lampiões, originar uma luz que permite enxergar melhor o mundo, ver o invisível com os olhos do coração. E é assim que ele consegue.  

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