por Arthur Franco
“ – Adeus – disse a raposa. – Eis o meu segredo. É muito
simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.” Talvez
seja uma das frases mais clichês que se tem notícia, principalmente em tempos
do falecido Orkut. Mas O Pequeno Príncipe,
de Antoine de Saint-Exupéry, continua
a ter um lugar especial no coração de quem leu essa obra admirável.
Existem sempre aqueles que julgam o livro como uma obra
infantil, seja pela presença constante das aquarelas do autor, seja pela
linguagem simples e pelo rumo que a história toma até o seu final. Mas, como
diz o próprio Exupéry no prefácio, “todas
as pessoas grandes foram um dia crianças. (Mas poucas se lembram disso)”. Aqueles
que já conheceram a história do principezinho que decide sair do seu pequeno
planeta para ver o mundo, sabem que o enredo por trás daquelas ingênuas palavras
e das alegorias contadas através de raposas, geógrafos e rosas é bem maior e
bem mais tocante.
Aproveitando-se de uma revoada de pássaros que emigravam, o
pequeno príncipe decidiu que era hora de conhecer outros planetas. Foi assim
que passou pelo planeta do vaidoso, do bêbado, do homem de negócios, do acendedor
de lampiões e do geógrafo, até desembarcar no maior deles: a Terra. Não era um
planeta qualquer, “contam-se lá cento e onze reis (não esquecendo, e claro, os
reis negros), sete mil geógrafos, novecentos mil negociantes, sete milhões e
meio de beberrões, trezentos e onze milhões de vaidosos - isto é, cerca de dois
bilhões de pessoas grandes.” É ali que o garoto com cabelos de ouro e que não
responde quando o interrogam encontra a sua passagem de volta para casa e
apresenta o personagem mais querido e cativante do livro. A raposa, dona do
célebre diálogo sobre cativar e sobre o essencial ser invisível aos olhos, nos
é apresentada de forma breve e aparece em um só capítulo, mas mesmo assim se
tornou a personagem mais célebre de toda a obra. É com ela que o príncipe
mais vai aprender e que nós, do lado de fora da narração, mais vamos tomar
consciência de quem é importante nas nossas vidas.
O vocabulário fácil, mas permeado de metáforas e
constatações filosóficas, transforma O Pequeno Príncipe na obra extraordinária
que ele merece ser. Os diálogos são construídos de forma sistemática e indutiva,
que permite que o leitor tenha vários olhares sobre a mesma sentença e diversas
conclusões acerca de uma mesma conversa ou de um determinado personagem. É
fácil encontrarmos geógrafos, serpentes e vaidosos no nosso dia a dia, a Terra
está mesmo cheia deles. O que precisamos é identificar quem são as raposas e as
rosas do nosso universo simbólico e de que forma estamos a cativar os sentimentos alheios.
É nesse sentido que o príncipe de Exupéry tenta, assim como
o acendedor de lampiões, originar uma luz que permite enxergar melhor o mundo,
ver o invisível com os olhos do coração. E é assim que ele consegue.
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