Por Arthur Franco
“A Sra Dalloway disse que ela própria iria comprar
as flores”. É com essa, singela e aparentemente indefesa frase, que Virginia Woolf começa um dos seus mais
famosos trabalhos: Mrs. Dalloway.
Mas quem é Mrs. Dalloway? Clarissa Dalloway é uma mulher já
de meia idade, vivida, decidida e feliz que se prepara para dar uma festa em
sua casa. Ela tenta se concentrar nas atividades que fazem parte dessa ocasião:
comprar flores, preparar o que será servido, arrumar a casa. Mas são nessas
atividades cotidianas que a mente da personagem perde-se e ela envolve-se em
lembranças e pensamentos sobre o passado, sobre as escolhas que vem e como a
vida poderia ter sido diferente.
O leitor é levado para dentro da mente de Clarissa,
revolvendo o seu passado e tomando forma das suas emoções. Conhecemos a sua juventude,
a candura, a simplicidade e inocência de um beijo; entendemos os seus amores passados,
e como as emoções de outrora teimam em vir à tona quando ela reencontra
convivas de antigamente; participamos dos dramas que podem parecer demais
dentro da cabeça de Clarissa, mas que no fundo reconhecemos em todos nós.
Ela representa os momentos decisivos da vida, aqueles que
pensamos como levamos a nossa existência, no que fizemos no passado. Ela
representa a felicidade, o momento presente e o desejo constante de mudança do
ser humano. Mas, sobretudo, apesar de todas as desilusões, as inseguranças, ela
consegue encontrar a felicidade, mesmo que seja por alguns breves instantes. E
é como acontece fora dos livros. A felicidade vem acanhada, nos momentos inesperados
e nos acontecimentos triviais. É como escreve Virginia em um trecho: “Tinha
parecido o começo da felicidade, e Clarissa ainda se choca, trinta anos depois,
quando percebe que era a felicidade: que a experiência toda repousa num beijo e
num passeio, na expectativa de um jantar e de um livro”.
Mrs. Dalloway é um romance escrito por uma mulher que vivia
com uma intensidade exacerbada e uma profunda melancolia. É um daqueles livros
com personagens reais, com pessoas iguais a mim ou a você, que tem alegrias,
felicidades e conquistas, mas também decepções, mágoas e angústias. Mas que no fim, descobrem que são esses
sentimentos, essas trivialidades, que os fazem humanos.
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