Por Carlos Gabriel F.
Destes dias atrás, enquanto andava pelo shopping com certa descontração de procura insaciável para se fazer algo em tempo ocioso absoluto, parei em uma livraria – como de usual: porque me parece que meus passos, espaçados de grande desavença, me levam diretamente para aquelas grandes lojas com brochuras operando enquanto paredes imaginárias de literatura – e, depois de tanto observar os mesmos livros da semana passada apenas dispostos em lugares descontraídos de desigualdade, parei-me no nicho dos quadrinhos. E confesso-vos: entrei em um colapso nervoso de tamanho amor e necessidade física de levar todos para casa. Não fui criança de revisar os jornais em busca de quadros históricos sobre narrações concisas, cômicas e sagazes de assuntos políticos; estes desenhos perpassaram minha vida em momentos importunos de desapego. A verdade é que nunca havia me interessado, de fato, pelos discursos imagéticos e pelas falas em balões redondos de bravura.
Mudei-me por inteiro, em ideologia e subjetividade, ao pegar em mãos “Jimmy Corrigan, o Menino Mais Esperto do Mundo” (2000) de Chris Ware. Soube que os quadrinhos do autor são um dos mais prestigiados na invenção das HQs – pergunto-me em lucidez: como eu não soube disso antes?. O que narro aqui são expectativas diante um fato consumado: os seus desenhos me remetem a um passado nostálgico de minimalismo incrível, inspirados nas ilustrações americanas do final do século XX, em que a combinação cronológica pode ser feita de formas invariáveis – seja pela disposição dos quadros ou pela forma que a história é contada aos leitores. O protagonista deste conto é Jimmy Corrigan: tímido e solitário homem de meia-idade, que recebe do pai, até então desconhecido, uma carta para um encontro de finalmentes. Sua reunião com a família resulta em uma sequência de momentos constrangedores e claustrofóbicos que não permitem a aproximação sentimental entre quaisquer personagens que sejam.
Chris Ware expõe nas páginas da obra a sua própria história. Também filho de um pai desconhecido, o autor foi contatado pelo pai enquanto escrevia e desenhava o texto. É o retrato de uma vida com tentativas de enlaçamento e vínculos – que perduraram no infinito dos cosmos e não deram certo. “Jimmy Corrigan, o Menino Mais Esperto do Mundo” é a fuga de um mundo acre e amargo, marcado por uma timidez, narrado por uma poesia bela em busca de redenção e perdão.
Por favor: ler uma parte, apaixonar-se e me presentear o quanto antes.
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