quinta-feira, 26 de abril de 2012

Apresentação da necessidade translúcida de Jimmy Corrigan.

Por Carlos Gabriel F.

Destes dias atrás, enquanto andava pelo shopping com certa descontração de procura insaciável para se fazer algo em tempo ocioso absoluto, parei em uma livraria – como de usual: porque me parece que meus passos, espaçados de grande desavença, me levam diretamente para aquelas grandes lojas com brochuras operando enquanto paredes imaginárias de literatura – e, depois de tanto observar os mesmos livros da semana passada apenas dispostos em lugares descontraídos de desigualdade, parei-me no nicho dos quadrinhos. E confesso-vos: entrei em um colapso nervoso de tamanho amor e necessidade física de levar todos para casa. Não fui criança de revisar os jornais em busca de quadros históricos sobre narrações concisas, cômicas e sagazes de assuntos políticos; estes desenhos perpassaram minha vida em momentos importunos de desapego. A verdade é que nunca havia me interessado, de fato, pelos discursos imagéticos e pelas falas em balões redondos de bravura.

Mudei-me por inteiro, em ideologia e subjetividade, ao pegar em mãos “Jimmy Corrigan, o Menino Mais Esperto do Mundo” (2000) de Chris Ware. Soube que os quadrinhos do autor são um dos mais prestigiados na invenção das HQs – pergunto-me em lucidez: como eu não soube disso antes?. O que narro aqui são expectativas diante um fato consumado: os seus desenhos me remetem a um passado nostálgico de minimalismo incrível, inspirados nas ilustrações americanas do final do século XX, em que a combinação cronológica pode ser feita de formas invariáveis – seja pela disposição dos quadros ou pela forma que a história é contada aos leitores. O protagonista deste conto é Jimmy Corrigan: tímido e solitário homem de meia-idade, que recebe do pai, até então desconhecido, uma carta para um encontro de finalmentes. Sua reunião com a família resulta em uma sequência de momentos constrangedores e claustrofóbicos que não permitem a aproximação sentimental entre quaisquer personagens que sejam. 



Chris Ware expõe nas páginas da obra a sua própria história. Também filho de um pai desconhecido, o autor foi contatado pelo pai enquanto escrevia e desenhava o texto. É o retrato de uma vida com tentativas de enlaçamento e vínculos – que perduraram no infinito dos cosmos e não deram certo. “Jimmy Corrigan, o Menino Mais Esperto do Mundo” é a fuga de um mundo acre e amargo, marcado por uma timidez, narrado por uma poesia bela em busca de redenção e perdão. 

Por favor: ler uma parte, apaixonar-se e me presentear o quanto antes.

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