domingo, 8 de abril de 2012

Um fantasma sublime.

Por Arthur Franco

Não é um livro em si, mas A Queda Da Casa De Usher, de Edgar Allan Poe, é um conto que tem conteúdo para ser uma obra literária completa. São tantas as metáforas e interpretações que podem se tirar da história que muitas vezes penso que o enredo, desenvolvido não mais do que em 20 e poucas páginas, é tão profundo quanto algumas obras que tem centenas de páginas. 

A trama em si é simples: um antigo amigo de Roderick Usher chega para visitá-lo e o descobre em um estado deplorável. A loucura, herdada da família, começa a tomar Roderick e conduz a sua irmã à morte. A trama tem um desenrolar inesperado, mas tudo culmina para o final, o que o título do livro já entrega: a queda da casa de Usher.


Edgar sabe escrever um conto de suspense e atormentado de sombras como quase nenhum outro escritor. Não existem sustos nem grandes tormentos, mas toda a sua perfeição se encontra nos detalhes, pretensiosamente descritos e cheios de significados. Nesse conto específico, encontramos a casa de Usher, que, entre as suas duas janelas frontais, detém uma rachadura, já símbolo da mente dividida de Roderick. E é essa dualidade que fará que o conto termine com o seu derradeiro final. O ambiente é sempre frio, opressivo, assim como a mente e a realidade dos personagens. A tristeza, oriunda de lugar algum, é onipresente, sem razão: “uma sensação de alguma coisa gelada, um abatimento, um aperto no coração, uma aridez irremediável de pensamento que nenhum estímulo da imaginação poderia elevar ao sublime.”
 
Roderick também não é aquele personagem ardente, que luta para a loucura não tomá-lo de vez. “Tez cadavérica, olhos grandes, transparentes, luminosos sem comparação; lábios um tanto finos e muito pálidos (...) cabelos que lembravam a maciez e a suavidade de uma teia de aranha.” Fora da realidade, longe da sanidade e sem perspectiva de melhora, vive do passado e da relação (misteriosa, doentia e incomum com a irmã, gêmea, diga-se de passagem). Tudo, desde o ambiente, passando pelo mobiliário da casa, até o passado e as atividades de Roderick culminam para que a melancolia seja o ponto principal da vida dos Usher. E tudo leva ao seu fim, ao seu desabamento, tudo colocado magistralmente no universo do fantástico pelo Sr. Edgar Allan Poe.

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