sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Os dois Ladrões.


Por Carlos Gabriel F.

Ao descobrir que os nossos livros preferidos se tornarão filmes, ou até mesmo seriados televisivos, encantamo-nos e tornamos expectativa enquanto previsão futura de que a adaptação venha a ser com exatidão aquilo que imaginara enquanto lia a brochura em algum tempo passado. Esperamos por tempos intermináveis de que aquele material produzido em conjunto a um diretor e roteirista se torne de tamanha primazia que nos sacie enquanto leitores insaciáveis. Mas a verdade seja dita: isso nunca acontece. “Nunca”, deixem-me generalizar. Seja por questões subjetivas ou porque somos demasiadamente exigentes, as nossas obras, retratadas numa tela qualquer de cinema, não condizem com o que havíamos imaginado. Os filmes são bons se muita das vezes analisados por fatores como a atuação dos atores ou a fotografia utilizada no longa, mas deixa de ganhar a sua merecida magia por não corresponder àquilo que queríamos. Esse complexo entre filme versus livro é um estigma nas nossas vidas – e muitas das vezes também um ciclo vicioso: nunca nos cansamos de esperar por algo que venha a contrariar todo o nosso conceito formado acerca deste assunto.


Se for pra falar de adaptações, que comecemos por “Percy Jackson e o Ladrão de Raios”, escrito por Rick Riordan, (que já apareceu por aqui em outrora nos “Livros aleatórios de ficção-científico-fantasiosa que merecem ser lidos - Parte I”), que foi adaptado aos cinemas em 2010 pela direção de Chris Columbus – aquele mesmo que também levou para as telas, enquanto produtor e diretor, as três primeiras edições da saga Harry Potter. No papel de Percy Jackson encontramos Logan Lerman, como Grover Underwood temos Brandon T. Jackson e, por fim, Alexandra Daddario interpretando Annabeth Chase. Acredito que a primeira divergência entre livro e filme começa-se por este aspecto: a escolha dos atores e atrizes. Logan assemelha-se à descrição de Percy, mas peca ao retratá-lo como um jovem de dezessete anos enquanto nosso original tinha sequer doze; Grover, por sua vez, é ruivo de cabelo encaracolado, com um sino ao pescoço e olhos azuis, enquanto Brandon é negro, com cabelos curtos e pretos; Annabeth, pela última decepção, é retratada por Rick como loira, de olhos cinzentos e de idade de Percy, enquanto nos olhos de Chris, a personagem se torna mais velha com madeixas acastanhadas. 

São tantas as comparações, são tantas as decepções, que retratarei apenas as principais, aquelas que, não entendo como, foram deixadas de lado em um filme de cento e vinte minutos e que irão, de algum modo, danificar as próximas adaptações – se elas de fato vierem a existir – que são “O Mar de Monstros”, “A Maldição do Titã”, “A Batalha do Labirinto” e “O Último Olimpiano”. 

Primeiramente, o Acampamento Meio-Sangue é descrito como um belo lugar em uma planície localizado no meio de colinas, com construções de arquitetura grega de extrema beleza, com vastos campos de plantações rasteiras, circundadas por florestas; na película, de outra forma, a área assemelha-se mais a uma grande selva insípida. 

Personagens importantes foram deixados fora da trama visual, como Clarisse – que causaria em Percy a experiência de ser capaz de controlar a água, mesmo que de modo rudimentar, e também será esta que acompanhará o protagonista em outras aventuras nos livros conseguintes –, Oráculo de Delfos – responsável pelas principais previsões ao longo da série –, Cronos – ex-divindade suprema que será o malvado em momentos posteriores – e Sr. D – diretor do acampamento e de quem Percy ouviu bons conselhos.

Percy em um momento oportuno, descobre a sua filiação divina de modos absurdamente diferentes. Nos escritos, o menino percebe o símbolo a pairar sobre sua cabeça após uma disputa tradicional entre as diferentes casas do reino, enquanto no longa, o responsável por contar ao jovem é Quíron, o centauro diretor de atividades do acampamento.

Uma das diferenças principais entre as duas obras – porque é assim que as vejo: duas obras, com enredos similares, contexto semelhante, mas com diferenças tamanhas que se divergem a pontos opostos –, e digna de ser citada, é o responsável pelo roubo do Raio. Enquanto no filme temos um jovem como apontado – o vilão, sim, de muitos dos atos cometidos tanto no primeiro como nos livros próximos –, na brochura temos um Deus olimpiano.

As divergências são tamanhas, de fato, mas não impedem de que o filme seja desprezível, já que conta com ótimas cenas de aventura e lutas gráficas de tirar o fôlego. Para aqueles que não temem pela decepção ou não tenham mente uma comparação a ser feita, é uma ótima escolha para o final de semana, mas para aqueles que são aficionados pela saga riordiana, imagino que será uma grande decepção. 

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