terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Miranda July: sobre a procura do amor diário.

Por Carlos Gabriel F.

Iniciamos hoje a nossa nova seção no Dois Leitores, com imenso prazer: Scriptores. Falaremos dos mais diversos autores e das mais comoventes escritas criadas ao longo do tempo; queremos, sobretudo, falar daqueles que elaboram universos, daqueles que com a arte da escrita são capazes de transcender por meio das palavras e fascinar cada vez mais uma gama de leitores. O Scriptores será sobre isso: os donos de nossos amores. 

Comecemos, então, com Miranda July. Conhecem?

“Look at the sky: that is for you. Look at each person's face as you pass on the street: those faces are for you. And the street itself, and the ground under the street, and the ball of fire underneath the ground: all these things are for you. There are as much for you as they are for other people. Remember this when you wake up in the morning and think you have nothing.”

Miranda July é dessas fazem-tudo-de-forma-magnífica, sabem? Aos trinta e oito anos a americana é (preparem o fôlego!) artista, escritora, dançaria, cantora, diretora de películas e vídeo clipes (além de ser proprietária de um site criativo, em que se necessita descobrir a palavra secreta para visualizá-lo - you know the password, just clear your mind and look within. it will probably be the first word that you think of.) .

De forma apaziguada e com diálogos concretos, diretos e preenchidos de extrema sensibilidade, Miranda nos leva pelo seu caminho de unicidade, em que retira do cotidiano histórias marcantes e belas. Em um de seus curtas, que acredito de dever ser mencionado, “Are You the Favorite Person of Anybody?” (2005), pergunta-se em concisão a estranhos transeuntes: você acredita ser a pessoa favorita de alguém? De uma pergunta simples, a diretora causa nos personagens ali representados três dos mais diversos e explanatórios efeitos: negação, desconhecimento e afirmação. 

Pois bem, quanto aos seus livros: é necessário migrar para a língua inglesa. O motivo é que em terras tupiniquins a autora possui apenas um livro publicado do total de seus seis: “É Claro Que Você Sabe Do Que Estou Falando” (“No One Belongs Here More Than You”, no original – 2007). Não fizeram uma má escolha, o pessoal da Editora Travessa, pois o livro em questão é um dos melhores (senão o melhor). Na brochura fina, de cento e noventa e duas páginas, ela traz à superfície histórias pequeninas em que trama uma conversa sincera com o leitor, em que questiona sentimentos, revela segredos internos, conta-nos truques surpreendentes, sem pedantismo e excessos, a fim de que nos identificarmos com o que ali é traçado: a busca diária e esmagadora por um novo amor, pela procura incessante de um sentido para aquilo que nomeiam como vida. Nos personagens criados por Miranda, nos vemos personificamos em quase todos, seja pela similaridade em que conduzimos nossos passos ou determinamos nossas escolhas.

Os textos de Miranda são pequenos, de enorme beleza e, felizmente, encontráveis na internet. Conheça por meio dos links a seguir a sua escrita muita das vezes breathless: o primeiro capítulo-conto de “É Claro Que Você Sabe Do Que Estou Falando”, “Making Love In 2003”, “Birthmark”. Os seus filmes e curtas também devem ser conferidos por tamanha excelência em filmagem e, sobretudo, roteiros, partindo do mesmo pretexto do mesmismo humanista – adicionem à suas listas “Me And You And Everyone We Know” (2005), o seu primeiro longa-metragem. 

“I made orange juice from concentrate and showed her the trick of squeezing the juice of one real orange into it. It removes the taste of being frozen. She marveled at this, and I laughed and said, Life is easy. What I meant was, Life is easy with you here, and when you leave, it will be hard again. The day felt like a birthday, our first, and we ourselves were the gifts, to be opened again and again. (…)”

P.S.: Já estão participando do sorteio que está acontecendo lá no Facebook? Não? Corre lá!

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