Por Carlos Gabriel F.
Lolita Pille, na beira dos seus trinta anos, talvez seja uma das escritoras francesas mais lúcidas desses tempos de desassossego contemporâneo. A autora causou um alvoroço na esfera literária com seu primeiro livro, “Hell – Paris 75016” (2003) – como se uma Darren Aronofsky na escrita, Lolita critica a liquidez dos laços joviais: com suas drogas subjetivas. Na eterna capital das luzes, com detalhes arquiteturais tão românticos, a autora nos leva através da vida de parisienses ricos submersos em sintéticos, grifes e festas noturnas. A sinceridade cotidiana de Lolita é marcante; edificando em páginas em branco o seu alter-ego a ser imponentemente exuberado.
“Não diga que a felicidade é efêmera. A felicidade não é efêmera. O sentimento que se sente e é tomado como felicidade quando se está apaixonado, quando se teve sucesso em alguma coisa, é uma liberdade condicional antes de conhecer a pena: o ser amado não se parece com nada, o que você conseguiu não serve pra nada. Isso não a faz infeliz, mas consciente. A felicidade não acaba, ela se retifica.”
Com a sua fama veio os dois livros adjacentes, “Bubble Gum” (2004) e “Crépuscule Ville” (2008). Fazendo várias referências a clássicos da literatura, como o pacto faustiniano de Goethe, Lolita traz a tona a vontade complexa de se tornar importante e ídolo de tantos — como se a vida fosse um filme, seus personagens tramam uma história preenchida de contra-regras e vidas separadas, em uma angústia marcante e subjetivamente ultrajante. Seguimos com suas referências apocalípticas totalitárias e tentando entender em pensamentos o verdadeiro significado de “humanidade”.
“Nós inventamos a luz para negar a escuridão. Colocamos as estrelas no céu, plantamos postes a cada dois metros nas ruas. E lâmpadas dentro de nossas casas. Apague as estrelas e contemple o céu. O que você vê? Nada. Você está diante do infinito que seu espírito limitado é incapaz de conceber, de forma que você nada mais enxerga. E isso o angustia. É angustiante estar diante do infinito. Fique calmo; os seus olhos sempre encontrarão as estrelas obstruindo a trajetória deles e não irão mais longe. De forma que o vazio dissimulado por elas será ignorado por você. Apague a luz e arregale os olhos ao máximo. Você nada verá. Apenas a escuridão, a qual é mais percebida do que vista por você. A escuridão não está fora de você, ela está em você.”
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